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Dearborn: como uma cidade de 100 mil habitantes pode definir a eleição presidencial dos EUA

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Eleitores muçulmanos podem ser a chave para Kamala Harris e Donald Trump.

Por TV Globo 

O Sonho Americano: série especial investiga o peso do eleitorado árabe 

A cidade de Dearborn, no Michigan, pode ter um papel fundamental na eleição presidencial dos Estados Unidos neste ano. Com uma forte presença de imigrantes árabes, a opinião dos eleitores desta região pode definir quem será o vencedor: Kamala Harris ou Donald Trump. 

Esta reportagem faz parte da série “O Sonho Americano”. A equipe da TV Globo percorreu estados-chave nas eleições presidenciais dos EUA para descobrir o que está impactando os eleitores neste ano. O sexto capítulo é sobre os EUA e o mundo.

O SONHO AMERICANO

Dearborn: como uma cidade de 100 mil habitantes pode definir a eleição presidencial dos Estados Unidos — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

Dearborn: como uma cidade de 100 mil habitantes pode definir a eleição presidencial dos Estados Unidos — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução 

Dearborn tem cerca de 100 mil habitantes e está localizada em um dos estados-chave das eleições deste ano. A cidade tem a maior mesquita dos Estados Unidos e o único museu árabe do país. 

“A comunidade árabe está aqui há décadas. Muitos vieram trabalhar nas montadoras de carros. E uma vez que estavam aqui as famílias começaram a vir também”, comenta Diana Abouali, diretora do museu.

Atualmente, Michigan tem 300 mil descendentes de imigrantes do Oriente Médio, principalmente libaneses, e muito deste movimento geográfico aconteceu graças às oportunidades de trabalho criadas muitos anos atrás pelas várias fábricas espalhadas pelo estado e que agora estão abandonadas. 

Entre esses descendentes, a religião varia entre o islamismo e o cristianismo, mas sempre com um denominador em comum: a comida. 

É na cozinha que as pessoas conseguem se conectar com a cultura longínqua e reencontram o pertencimento de seus lares originais. Muitos são americanos, mas se sentem libaneses ou palestinos, especialmente durante o momento trágico que os dois países vivem. 

Americanos envolvidos na guerra

Os Estados Unidos são os maiores aliados de Israel. O apoio começou durante a criação do Estado, em 1946, mas hoje em dia se estendeu a ponto dos americanos atuarem como aliados militares na região, sendo responsáveis por 16% do orçamento de defesa israelense. 

A questão é histórica, vista como política de estado, e com as eleições norte-americanas se aproximando, a tensão no Oriente Médio parece longe de melhorar. 

Israel classifica o atentado terrorista do Hamas, de 7 de outubro de 2023, como o seu 11 de setembro. E, desde então, o comando israelense tem movido suas forças para aniquilar completamente o Hamas e o Hezbollah. 

Dentro da comunidade de descendentes do Líbano e da Palestina, duas nações que estão na mira de Israel, a reação é vista como desproporcional. 

“Nesse momento sua nacionalidade não importa. O que importa é se você é humano ou não”, diz Lubna Faraj, moradora de Dearborn. Seu filho, Zayn Faraj, tem sentido na pele a hostilidade contra o seu povo: “É difícil viver num país que é claramente contra as pessoas que você ama.” 

A situação fica ainda mais crítica com a chegada das eleições, especialmente considerando que Dearborn é fundamental dentro deste quebra-cabeça. 

Dearborn na mira dos candidatos

As eleições norte-americanas são definidas por estado, cada um deles vale um número específico de pontos. Para vencer, um candidato precisa somar 270. 

Neste momento, a maior parte dos estados já sabe quem vai sair como vencedor, principalmente pela tradição de voto democrata ou republicano. 

Entretanto, alguns estados mudam a cada eleição, o que influencia diretamente o resultado. 

Michigan é um deles. 

Donald Trump venceu no estado em 2016 por apenas 10 mil votos de diferença, enquanto Joe Biden venceu em 2020 com 150 mil votos de diferença. 

A comunidade de famílias provenientes do Oriente Médio é enorme, a ponto de eleitores registrados como muçulmanos somarem sozinhos 200 mil votos. Desses, a maioria foi para Biden na última eleição. 

Mas o jogo não está ganho para democratas em 2024. 

“Nós sempre fomos eleitores democratas muito fiéis, mas é óbvio que agora não somos mais. Nós nos tornamos eleitores que têm apenas uma prioridade: acabar com o sofrimento e o genocídio. É questão de humanidade”, diz Lubna Fraj.

Muitos desses eleitores pretendem votar na candidata do Partido Verde, chamada Jill Stein, que tem apenas 1% da intenção de votos nas pesquisas. 

“É uma tentativa de colocar alguém a mais no jogo, porque as eleições sempre são com as mesmas pessoas”, justifica Khaldon Masri, morador da cidade. 

Isso significa que a perda de apoio dos árabes em Dearborn pode acabar custando uma eleição para o partido democrata. 

Enquanto isso, para os residentes da cidade que possuem origens libanesas ou palestinas, a comida segue sendo um fio invisível de contato com compatriotas que estão sofrendo na guerra. É o jeito de não perder a conexão com as origens e também a forma encontrada de passar adiante o sonho americano que só se vive em Dearborn, ainda inalcançável para quem está na frente de guerra. 

“Meu sonho é que meu filho se sinta bem sendo quem ele é. Com o que quiser aprender e a religião que queira. Aqui nos Estados Unidos é importante que a gente continue seguindo em frente e nunca volte atrás.”