Início Piauí Museu do Piauí: Espaço Afro e a Memória da Escravidão no Estado

Museu do Piauí: Espaço Afro e a Memória da Escravidão no Estado

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O espaço exibe uma coleção de artefatos históricos, como troncos de madeira e chicotes, que eram empregados durante o período da escravidão.

O Museu do Piauí – Casa de Odilon Nunes, situado no centro de Teresina, possui um espaço significativo dedicado à história e cultura afro-brasileira. O local atrai estudantes, pesquisadores e turistas de diferentes regiões do Piauí, de outros estados e até de fora do país. Um dos destaques do acervo são os instrumentos de punição utilizados na Fazenda Serra Negra, em Aroazes (PI), durante o período escravocrata, especialmente entre 1722 e 1741. Esses artefatos despertam tanto curiosidade quanto reflexão nos visitantes.



Entre os objetos expostos estão dois troncos de madeira usados para castigar escravizados, um dos quais tinha capacidade para prender até quatro pessoas simultaneamente. Há também um ferro de marcar com as iniciais “J.do. B.”, que identificava o dono da Fazenda Serra Negra. Outro item impactante é um chicote de ferro trançado, utilizado pelos feitores para punir os escravizados, além de uma gargantilha de ferro com sino, destinada àqueles que tentavam escapar.

Segundo o historiador Gilvan Oliveira, do Museu do Piauí, embora esses instrumentos de tortura não representem diretamente a cultura afro-brasileira, eles fazem parte de uma história que precisa ser preservada. “É fundamental que os visitantes compreendam o sofrimento enfrentado pelos escravizados no Piauí”, enfatiza Oliveira.

Além dos artefatos que retratam o período de sofrimento, o espaço conta com pinturas relacionadas à cultura afro-brasileira e uma exposição fotográfica que destaca os traços étnicos da população negra no estado. Outros itens importantes incluem potes e telhas do século XIX, que fazem referência às habilidades artesanais dos escravizados.

O espaço também homenageia Júlio Romão da Silva, um escritor piauiense de destaque, membro da Academia Piauiense de Letras, que dedicou sua trajetória acadêmica ao estudo da cultura afro no estado. Há ainda referências às comunidades quilombolas do Piauí, como Olho d’Água dos Negros, Marinheiro do Mimbó, Potes, Salinas e Queimada Nova, reforçando a importância de sua preservação cultural e histórica.

O professor Rafael Costa e Araújo, do Núcleo de Atendimento a Altas Habilidades e Superdotação (NAAH-S) da Secretaria de Educação, organizou uma visita ao Museu do Piauí e ao Espaço Afro com um grupo de alunos. Segundo ele, essa experiência é uma oportunidade valiosa para ampliar o repertório cultural dos estudantes.

“Frequentemente, ficamos restritos ao conhecimento teórico presente nos livros, sem compreender plenamente como os acontecimentos se davam na prática. Ao visitar esse espaço e observar os instrumentos de tortura, conseguimos ter uma noção mais clara da brutalidade daquele período. O chicote de ferro, por exemplo, que dilacerava a pele, é uma evidência chocante da desumanidade dos castigos aplicados na época”, ressalta Araújo.

A visita ao Espaço Afro proporciona, assim, uma reflexão intensa sobre o sofrimento enfrentado pelos escravizados e reforça a importância de preservar e transmitir essa memória histórica para as futuras gerações.