
Putin diz que Rússia planeja reduzir gastos militares enquanto Otan prevê aumento
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta sexta-feira (27) que o país pretende reduzir seus gastos militares a partir do próximo ano — uma posição oposta à da Otan, que anunciou planos para ampliar os investimentos em defesa nos próximos dez anos.
Na última quarta-feira, os países membros da Otan concordaram em elevar a meta de gastos coletivos com defesa para 5% do PIB até 2034. A justificativa é o fortalecimento da capacidade de resposta civil e militar diante da ameaça representada pela Rússia.
Em sua primeira reação pública à decisão, Putin declarou, durante coletiva em Minsk, que o aumento orçamentário da Otan estaria focado em compras de armamentos dos Estados Unidos e no apoio à indústria militar norte-americana. “Isso diz respeito à Otan, não a nós”, afirmou.
Segundo ele, a Rússia está seguindo um caminho oposto: “Estamos planejando reduzir os gastos com defesa para o próximo ano, o seguinte e o próximo período de três anos.”
Putin admitiu que ainda não há consenso entre os Ministérios da Defesa, da Economia e das Finanças, mas garantiu que todos estão “pensando nessa direção”.
O líder russo também questionou os objetivos da aliança militar ocidental: “A Europa quer aumentar os gastos. Então, quem parece estar se preparando para uma ação agressiva — nós ou eles?”, provocou.
Ocidente mantém desconfiança
As declarações de Putin são vistas com ceticismo no Ocidente. Desde o início da guerra na Ucrânia, a Rússia elevou significativamente seus investimentos militares, e o conflito segue sem perspectivas concretas de cessar-fogo. Pelo contrário: os combates se intensificaram nas últimas semanas, com as negociações praticamente estagnadas.
Putin, por outro lado, elogiou os esforços do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, ao afirmar que ele reconheceu as dificuldades para encerrar o conflito. “Ele disse que é mais complicado do que parecia de fora — e é mesmo”, afirmou.
Trump declarou nesta semana acreditar que Putin estaria disposto a encontrar uma saída para o impasse. No entanto, líderes ucranianos e aliados europeus seguem convencidos de que o presidente russo busca expandir seu controle territorial e não demonstra interesse real em uma solução pacífica.
Putin também mencionou que os negociadores de Moscou e Kiev continuam em contato, e que a Rússia está disposta a devolver os corpos de mais 3 mil soldados ucranianos.
Economia em desaceleração pressiona orçamento russo
Apesar do discurso de corte de gastos, os dados orçamentários apontam em outra direção. A Rússia deve aumentar os gastos com defesa nacional em 2025, alcançando 6,3% do PIB — o maior nível desde a Guerra Fria. A área militar representará cerca de 32% do orçamento federal.
O crescimento econômico desacelerou, pressionado pela queda nas receitas de energia. A inflação segue alta, e o banco central tenta conter os preços. As fábricas de armamentos operam dia e noite, enquanto o governo amplia bônus para atrair novos soldados e oferece compensações às famílias de mortos na guerra.
Putin reconheceu o impacto desse esforço militar: “Pagamos com uma inflação mais elevada.” Em abril, o Ministério das Finanças revisou o déficit fiscal previsto para 2025, subindo de 0,5% para 1,7% do PIB. A projeção de receitas com energia também caiu 24%, o que obrigará o governo a usar reservas para equilibrar as contas.