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Tragédia no Texas levanta debate sobre falhas na prevenção de desastres climáticos nos EUA

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Mortes nas enchentes do Texas chegam a 104; tragédia reacende debate sobre prevenção a eventos climáticos extremos

O número de vítimas fatais das enchentes no Texas já soma 104 pessoas, e a dimensão do desastre voltou a colocar em foco a eficácia dos sistemas de alerta e prevenção a fenômenos climáticos nos EUA.

Em apenas duas horas, o rio Guadalupe elevou seu nível em nove metros, atingindo diversas comunidades durante a madrugada, quando a escuridão e a cobertura de celular precária impediram avisos imediatos. Uma residente relatou não ter recebido qualquer notificação da Defesa Civil, que só iniciou batidas de porta em porta por volta das 2h30, quando a água já invadia as casas.

Nas margens do Guadalupe estão várias colônias de férias. Numa delas, destinada exclusivamente a meninos, uma cabana foi arrastada pelo rio enquanto ainda havia pessoas em seu interior. Windom Ethridge, presente no local, conta que todos ouviram os gritos, mas, felizmente, ninguém se feriu gravemente.

Já no Camp Mystic — com 100 anos de atividade — estavam 750 meninas de 7 a 12 anos, muitas dormindo longe dos pais pela primeira vez. Como o uso de celulares é proibido, apenas os monitores (adolescentes contratados para o verão) tinham comunicação externa. Localizado a apenas 150 metros do rio, o alojamento infantil foi atingido às 2h, quando a água chegou ao teto. As crianças e alguns responsáveis conseguiram se retirar a tempo, mas 27 monitores foram arrastados e perderam a vida. Entre as vítimas estão Sarah Marsh, de 8 anos, e Janie Hunt, de 9, que frequentava o acampamento pela primeira vez ao lado de seis primas — todas elas sobreviveram.

O Guadalupe é um dos rios com maior histórico de transbordamentos no país. Após a última grande enchente, há oito anos, autoridades avaliaram instalar sirenes de alerta, mas o alto custo impediu a implantação do sistema.

Recentemente, o governo federal aprovou cortes no orçamento do Serviço Nacional de Meteorologia e reduziu os recursos destinados à prevenção de mudanças climáticas. Cientistas alertam que, sem investimentos, eventos como este se tornarão ainda mais frequentes e mortíferos. Em contraste, a China já aplica cerca de 10% do seu PIB em obras de adaptação e resiliência contra inundações.

No Congresso, o senador democrata Chuck Schumer solicitou investigação para verificar se os cortes no Serviço Nacional de Meteorologia influenciaram no atraso dos alertas. O senador republicano Ted Cruz, do Texas, também defende uma apuração minuciosa para evitar novas tragédias. A Casa Branca, por sua vez, afirmou que havia equipe suficiente empenhada no momento do desastre.

As buscas por desaparecidos prosseguem. Moradores vêm relatando cenas dramáticas — uma delas conta que uma família com bebê foi arrastada pela enxurrada — e temem o que ainda pode surgir ao vasculhar os escombros de seus lares.