União Europeia lança plano histórico para estocar itens essenciais em caso de crises
A União Europeia apresentou nesta quarta-feira (9) uma estratégia inédita para garantir o armazenamento de itens essenciais como alimentos, água, combustíveis e medicamentos em situações de emergência — incluindo pandemias, desastres naturais, apagões, ameaças nucleares ou químicas e conflitos armados.
A proposta, chamada de “estratégia de estocagem”, foi motivada pelo cenário atual de instabilidade global, que envolve tensões geopolíticas, ataques híbridos e cibernéticos, interferências estrangeiras e mudanças climáticas.
O anúncio ocorre em um momento de alerta por parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que vê a Rússia — atualmente em guerra contra a Ucrânia, país vizinho da UE — como uma possível ameaça militar à aliança nos próximos cinco anos. Diante disso, o bloco europeu intensifica seus investimentos em defesa com metas até 2030.
A Rússia faz fronteira com cinco países do norte e leste europeu — Noruega, Finlândia, Estônia, Lituânia e Polônia — sendo que, exceto pela Noruega (membro apenas da Otan), todos integram tanto a UE quanto a aliança militar.
“A meta é muito simples: garantir que todos os bens essenciais para o funcionamento das nossas sociedades — especialmente os que salvam vidas — estejam sempre acessíveis”, explicou Hadja Lahbib, comissária de gerenciamento de crises da UE. “Quanto mais nos prepararmos, menos estaremos sujeitos ao pânico.”
Medidas concretas
O plano prevê a criação de uma rede entre os 27 países do bloco para coordenar ações, identificar vulnerabilidades e reforçar os estoques em nível europeu. Entre os itens estratégicos a serem adquiridos estão produtos para purificação de água, geradores de energia, equipamentos para conserto de cabos submarinos, drones e pontes móveis para situações de guerra ou catástrofes.
A proposta surge também como resposta à crise provocada pela pandemia de Covid-19, que evidenciou a falta de equipamentos de proteção, insumos médicos e vacinas nos primeiros meses da emergência sanitária.
Kit de sobrevivência

Como parte das ações de preparo, a UE recomendou, em março deste ano, que cada residência tenha um “kit de sobrevivência” capaz de sustentar seus moradores por pelo menos três dias, contendo água potável, alimentos não perecíveis, lanternas e outros itens básicos.
A UE também estuda a implementação de um sistema de monitoramento de esgoto para detectar precocemente surtos de doenças infecciosas.
Diferenças regionais
O nível de preparo para situações de emergência varia entre os países europeus. Finlândia e Estônia, por exemplo, há anos adotam medidas para lidar com eventuais conflitos devido à proximidade com a Rússia. “Se você tem uma fronteira de mil quilômetros com a Rússia, é natural se sentir ameaçado por uma guerra”, comentou Lahbib. “Já na Espanha, o temor maior são os incêndios florestais.”
O plano representa um passo decisivo da União Europeia na busca por mais resiliência diante de um mundo cada vez mais instável.