
As negociações para firmar um tratado global contra a poluição plástica terminaram nesta sexta-feira (15) em Genebra sem consenso, após a falha de uma proposta de última hora. Para Michel Santos, da WWF Brasil, o impasse representa mais plástico nos oceanos, riscos à saúde e perda de biodiversidade.
Durante a madrugada, representantes de 185 países buscaram avançar em um acordo. De um lado, estavam nações que defendem medidas robustas, como a redução da produção de plástico; de outro, países produtores de petróleo, interessados em limitar o tratado apenas à gestão de resíduos.
“Foi frustrante para todos que defendem um acordo ambicioso”, declarou Santos à RFI, destacando que o impasse não decorreu de um único país, mas de divergências profundas sobre pontos centrais como metas obrigatórias, regulação de substâncias perigosas e mecanismos de financiamento.
Encerrada a sessão de negociações a portas fechadas, as delegações se reuniram no salão principal do Palais des Nations para avaliar os próximos passos. “Não teremos um tratado para encerrar a poluição plástica aqui em Genebra”, afirmou o negociador da Noruega.

Apesar da decepção, Santos ressaltou que o processo continua: “O fracasso em Genebra não encerra a negociação. Precisamos de um tratado capaz de responder à urgência da crise plástica. O tempo para concessões acabou.”
A frustração também foi expressa por outros países. Cuba lamentou a “oportunidade histórica perdida”, enquanto Palau, em nome de 39 pequenos Estados insulares, criticou a falta de avanços apesar do esforço e dos recursos investidos.
O Brasil foi elogiado pela WWF por defender propostas como uma transição justa, atenção à saúde, reconhecimento dos catadores e inclusão de químicos perigosos no texto, embora tenha sido cobrada maior transparência nas posições públicas.
A chamada Coalizão de Alta Ambição — formada pela União Europeia, Reino Unido, Canadá, além de países africanos e latino-americanos — pressiona pela redução da produção de plásticos e pela eliminação gradual de substâncias tóxicas. Em contraposição, o Grupo de Pensamento Alinhado, liderado por Arábia Saudita, Kuwait, Rússia, Irã e Malásia, busca restringir o tratado a um escopo mais limitado.
Segundo dados globais, mais de 400 milhões de toneladas de plástico são produzidas por ano, metade destinada a itens descartáveis. Apenas 9% do total é reciclado, enquanto 46% vai para aterros, 17% é incinerado e 22% acaba mal gerido, contaminando o meio ambiente.
