O Banco Central do Brasil vetou a compra do Banco Master pelo BRB (Banco de Brasília). O acordo havia sido anunciado em março e previa que o BRB, controlado pelo governo do Distrito Federal, assumisse o Master — instituição que ganhou destaque ao oferecer rentabilidades bem acima da média de mercado, destacando sempre a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), mecanismo que assegura investidores até um limite pré-estabelecido.
O Banco Master enfrenta dificuldades de liquidez e problemas para cumprir compromissos. Inicialmente, o BRB pretendia absorver cerca de R$ 50 bilhões em ativos, mas, após análise, concluiu que parte deles era de baixa qualidade ou de difícil recuperação. A pedido do Banco Central, a proposta foi reduzida para R$ 24 bilhões, mas ainda assim os ativos restantes representavam riscos relevantes.
Como toda operação desse porte depende da autorização do BC, a análise foi conduzida dentro do prazo legal de um ano. Na quarta-feira (3), a autoridade monetária rejeitou a transação. Apesar de não detalhar as razões, o mercado financeiro atribuiu a decisão às dificuldades dos atuais sócios do Master em aportar capital e aos riscos que a aquisição poderia trazer à reputação e à gestão do BRB. As ações do BRB recuaram 5,47% no pregão desta quinta-feira (4).
Em nota divulgada na noite de quarta, o BRB defendeu que a operação era estratégica e tinha potencial de gerar valor para seus acionistas, clientes, o Distrito Federal e o Sistema Financeiro Nacional. A instituição também afirmou que seguirá informando o mercado sobre novos desdobramentos. Já o Banco Master declarou que aguarda acesso integral ao documento do BC para avaliar os fundamentos da decisão e estudar alternativas. Ambos ainda podem solicitar reconsideração da autoridade monetária.
A decisão do Banco Central ocorreu em meio a pressões políticas. Um dia antes, líderes do Centrão, da oposição e do governo apresentaram urgência na votação de um projeto que daria ao Congresso o poder de destituir diretores do BC — prerrogativa que hoje cabe exclusivamente ao Presidente da República, em situações justificadas. No mercado, o movimento foi interpretado como tentativa de pressionar o BC a autorizar a operação.
Ex-presidentes da instituição alertaram para os riscos do projeto, afirmando que ele comprometeria a autonomia do Banco Central e a estabilidade da economia. Para Armínio Fraga, ex-presidente do BC, a mudança seria um “retrocesso tremendo”, ao transformar a política monetária em instrumento de manipulação política de curto prazo, minando a previsibilidade e a credibilidade do sistema financeiro.
Segundo ele, a perda de autonomia do BC poderia gerar decisões voltadas a interesses imediatistas, como crises bancárias ou eleições, e não ao bem-estar da população. Isso, acrescenta, fragilizaria não apenas a política monetária, mas também a confiança no sistema financeiro como um todo.
















