
A Organização das Nações Unidas (ONU) cobrou do governo brasileiro uma resposta rápida para corrigir falhas de segurança e problemas estruturais que vêm comprometendo a COP30, em Belém. A demanda foi enviada em uma carta da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) ao ministro da Casa Civil, Rui Costa — responsável pela coordenação das ações da cúpula — e a André Corrêa do Lago, presidente da conferência.
O teor da carta foi inicialmente divulgado pela Bloomberg e depois confirmado pela GloboNews.

No documento, o secretário-executivo Simon Stiell relata que a tentativa de invasão registrada na noite de terça-feira, quando cerca de 150 ativistas entraram no pavilhão principal, deixou feridos, provocou danos e revelou “graves brechas” nos protocolos de segurança. Ele afirma que, embora houvesse policiamento no local, os agentes não conseguiram conter o avanço dos manifestantes e que, na manhã seguinte, novos protestos ocorreram em áreas que deveriam ser restritas, em desacordo com o plano de proteção do evento.

A carta lista ainda diversas fragilidades, como:
portas sem vigilância; número insuficiente de agentes de segurança; falta de garantias de resposta rápida por parte das forças federais e estaduais.
Stiell também chama atenção para problemas de infraestrutura registrados nos últimos dias, entre eles:
calor excessivo nos pavilhões; falhas no sistema de climatização; infiltrações causadas pela chuva; riscos envolvendo água próxima a instalações elétricas.
Segundo ele, várias delegações expressaram forte preocupação com as condições precárias dos escritórios cedidos. O secretário solicita que seja apresentado, ainda no mesmo dia, um plano de melhoria e que as delegações sejam informadas com transparência sobre as providências adotadas.
Resposta da Casa Civil
Em nota ao g1, a Casa Civil afirmou que “todas as solicitações da ONU têm sido atendidas” após o protesto que marcou o segundo dia da cúpula. O órgão disse não ter participado das decisões tomadas pelas forças de segurança durante a manifestação e ressaltou que a proteção interna da Blue Zone é responsabilidade do Departamento de Segurança e Proteção da ONU (UNDSS).
O governo informou que representantes federais e estaduais se reuniram com o UNDSS na quarta-feira (12) para reavaliar o contingente policial responsável pela segurança dos perímetros Laranja e Vermelho da COP30, que foram ampliados.
A Casa Civil acrescentou que foi ampliada a área entre as Zonas Azul e Verde para evitar novos incidentes e que Força Nacional e Polícia Federal passaram a atuar conjuntamente ali. A nota menciona ainda o reforço do perímetro com gradis, barreiras metálicas e estruturas adicionais de contenção.
Quanto ao conforto térmico, o governo disse ter instalado novos aparelhos de ar-condicionado em tendas e enviado unidades extras para salas com problemas de climatização. Sobre os pontos de infiltração, afirmou que não houve alagamento no evento, mas apenas goteiras pontuais causadas pelo rompimento de calhas, que teriam sido rapidamente consertadas.
A Casa Civil informou que todas as questões operacionais vêm sendo tratadas diariamente em reuniões com a UNFCCC, para garantir ajustes contínuos durante a conferência.
Como foi o protesto
O incidente ocorreu por volta das 19h20 de terça-feira, logo após a entrevista coletiva de encerramento do dia. Um grupo de manifestantes tentou invadir a Blue Zone, passando pelas portas do pavilhão e avançando em direção às áreas onde estavam participantes da conferência. Eles foram detidos pela segurança da COP, o que gerou confronto.
Um porta-voz da ONU disse ao g1 que as equipes brasileiras e da ONU seguiram os protocolos e conseguiram controlar a situação. Dois seguranças tiveram ferimentos leves e houve danos pontuais na estrutura.
A pedido da ONU, a Polícia Federal abrirá inquérito para investigar a invasão. Imagens internas e externas da Blue Zone foram requisitadas para análise.
Vídeos mostram que a ação começou com um grupo trajado com roupas indígenas que passou por portões da entrada principal e pelas máquinas de raio-x, espalhando-se pelo saguão próximo ao credenciamento. Em seguida, outros manifestantes — com bandeiras estudantis e faixas contra a exploração de petróleo — também tentaram avançar, mas foram contidos.
Após o tumulto, os participantes credenciados puderam deixar o pavilhão, enquanto a segurança foi reforçada com viaturas da Polícia Militar. Não há registro de detidos.
Valter Correia, secretário extraordinário da COP30, afirmou que a organização estava adotando todas as medidas necessárias e que a ONU segue seus próprios protocolos de segurança. Uma reunião entre autoridades brasileiras e da ONU ocorreu depois do incidente, e a entrada de trabalhadores noturnos chegou a ser adiada.
Marcha Saúde e Clima nega envolvimento
Na tarde do mesmo dia, o parque que sedia a COP recebeu a Marcha Global Saúde e Clima, que reuniu cerca de 3 mil pessoas em um percurso de 1,5 km. A organização da marcha divulgou nota afirmando não ter qualquer relação com o episódio ocorrido na entrada da Blue Zone.
O ato contou com médicos, enfermeiros, estudantes, lideranças indígenas e representantes de movimentos sociais que reivindicaram políticas públicas de saúde.

















