O encarecimento da carne no Brasil está ligado ao aumento das exportações. Nos lares brasileiros, o consumo do alimento tem diminuído.
“Quando chego ao mercado e vejo o preço da carne, simplesmente não dá. Hoje em dia, comer bife é um luxo mensal”, relata Diana Cristina Cesário, que trabalha com limpeza.
A dona de casa Layla Lobato conta que tem buscado alternativas: “Saí de um supermercado e fui a outro, tentando encontrar uma diferença no valor”.
Já Paulina Conceição, cuidadora, afirma com firmeza: “Com esses preços absurdos, não dá mesmo para comprar”.
O valor da carne começou a subir significativamente em setembro de 2024. Nos últimos 12 meses, a alta foi de 21%, bem acima da inflação geral. Segundo o pesquisador Felippe Serigati, do FGV Agro, a produção global de carne bovina diminuiu, o que elevou a procura pelo produto brasileiro, considerado de qualidade e com boa aceitação internacional. Isso resultou em exportações recordes de US$ 2,9 bilhões no primeiro trimestre de 2025.
“Hoje, o mundo pergunta quem pode fornecer carne bovina. E praticamente só o Brasil consegue atender, tanto pela qualidade quanto pela oferta. No entanto, é importante lembrar que a maior parte da produção – entre 70% e 80% – ainda é consumida internamente. Apenas o excedente é exportado”, explica Serigati.
Ele destaca também que o problema não é apenas o preço da carne em si, mas o enfraquecimento do poder de compra das famílias: “Com a inflação pressionando, muitos lares viram a renda diminuir, e a carne passou a pesar mais no orçamento”.
Diferente de outros produtos agrícolas, a produção de carne bovina é lenta e exige anos, o que dificulta ajustes rápidos na oferta e nos preços. Em Mato Grosso do Sul, o pecuarista Eduardo Ferreira busca soluções sustentáveis para ampliar a produção:
“A ideia é aumentar a quantidade de carne produzida por hectare usando tecnologia, como a integração lavoura-pecuária. Assim conseguimos crescer sem precisar desmatar ou expandir a área”.
Enquanto isso, os consumidores adaptam seus cardápios. O aposentado Bonfim Pereira França tem optado por proteínas mais acessíveis: “Acabo comprando mais frango, como coxa e sobrecoxa, ou qualquer outra opção mais em conta”.

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes informou que os cortes exportados são, em geral, aqueles com menor demanda no mercado interno, o que ajuda a manter o equilíbrio no abastecimento nacional. Além disso, fatores como os custos com insumos, energia e transporte têm forte impacto no preço final nas prateleiras.