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Após Gonzalez deixar Venezuela, Maduro volta a falar que venceu eleição e diz que ‘país está tranquilo’

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Candidato de oposição contra Maduro na eleição, Edmundo González deixou a Venezuela no domingo (8) sob ameaças de prisão por divulgação de atas eleitorais. Ele se asilou na Espanha.

Por g1


Edmundo Gonzalez e Nicolás Maduro — Foto: Gabriela Oraa /AFP; Leonardo Fernandez Viloria/Reuters 

Na primeira manifestação após Edmundo González ter deixado a Venezuela, o presidente Nicolás Maduro reafirmou sua vitória na eleição presidencial nesta segunda-feira (9) e disse que “o país está em paz”. 

Em programa na TV estatal venezuelana, Maduro comparou o impasse com a oposição, encabeçada por González e por María Corina Machado, com um jogo de xadrez, e disse que “o jogo se deu em condição de igualdade”. 

“Jogamos limpo e ganhamos limpo. Ganhamos no sentido da paz do país. Hoje o país está tranquilo e aplaude o que aconteceu”, disse o presidente, que foi aplaudido pelos presentes. 

Maduro responsabilizava os opositores pelas manifestações que tomaram as ruas da Venezuela após a eleição, que deixou dezenas de mortos e gerou diversas prisões. Segundo o presidente, com a ida de González à Espanha, os desejos do opositor de “paz e harmonia para o país” serão respeitados e que “a paz reinará acima de tudo”. 

O presidente venezuelano também disse que “respeita” a decisão tomada por Edmundo González de deixar a Venezuela. “Todo o meu respeito pela decisão que tomou. Posso dizer ao embaixador González Urrutia, com quem tenho entrado em choque desde 29 de julho, que entendo o passo que ele deu e o respeito”, afirmou Maduro. Em tom de despedida, o governante desejou ao opositor tudo de bom “em sua nova vida”.

A viagem de González à Espanha foi feita com autorização do governo venezuelano, segundo a vice-presidente do país. A saída do candidato gerou críticas, entre a oposição, de que a saída de González pode enfraquecer o movimento— os opositores afirmam ter vencido as eleições, apesar de a Justiça eleitoral ter declarado vitória de Maduro. As atas eleitorais, espécies de boletins de urna, não foram divulgadas pelo governo. 

Maduro disse que a saída de González foi negociada e faz parte de sua ética como presidente, mas não revelou detalhes das tratativas. “Tenho muitos defeitos, mas um dos valores que pratico é a palavra. Conduzi esse processo coletivamente com uma equipe, mas em cunho pessoal também. Tenho palavra para cumprir os acordos e também para guardar os segredos. Me reservo ao direito constitucional do segredo de estado”, disse. 

“Tudo foi feito de maneira impecável. (…) Sempre jogamos limpo”, afirmou Maduro.

Candidato de oposição que enfrentou Maduro nas urnas em 28 de julho, Edmundo González tinha um mandado de prisão contra ele a pedido do Ministério Público do país –alinhado ao chavismo. O pedido de prisão foi feito porque o candidato não compareceu a convocações do MP para dar depoimento em investigação do órgão contra ele –havia o temor de que ele fosse preso caso se apresentasse. 

O candidato de oposição é investigado pelo MP pela publicação de um site com cerca de 80% das atas eleitorais coletadas pela oposição. Maduro foi decretado vencedor pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), mas divulgou as atas até o momento. O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), que ratificou a vitória do presidente, proibiu a publicação dos documentos. Tanto o CNE quanto o TSJ são alinhados a Maduro.

González e Corina Machado estão escondidos desde a eleição, com raras aparições públicas –a líder da oposição compareceu a dois protestos contra o governo, e González, a um. Maduro já havia dito que os dois “têm que estar atrás das grades”.

Após chegar à Espanha, Edmundo Gonzáles divulga mensagem em áudio 

Ida à Espanha

Edmundo Gonzalez, opositor de Maduro na Venezuela, em 31 de maio de 2024 — Foto: Gabriela Oraa / AFP

Edmundo Gonzalez, opositor de Maduro na Venezuela, em 31 de maio de 2024 — Foto: Gabriela Oraa / AFP 

González deixou a Venezuela em uma aeronave da Força Aérea espanhola, que pousou no domingo (8) na Base Aérea de Torrejón de Ardoz, nos arredores de Madri. O ex-diplomata recebeu asilo político do país europeu após ter tido a prisão decretada na Venezuela

Ele estava foragido. 

Em um comunicado, Edmundo González disse que optou refugiar-se na Espanha, onde já recebeu asilo político, para evitar “um conflito de dor e sofrimento”. Ele se disse ainda disposto ao diálogo com o governo Maduro

“Eu fiz isso (ir à Espanha) pensando na minha família e em todas as famílias venezuelanas neste momento de tanta tensão e angústia”, disse. “Só a política do diálogo pode fazer com que nos reencontremos como patriotas. Só a democracia e a realização da vontade popular pode ser o camimho”. 

No domingo (8), em um áudio divulgado por sua equipe após González chegar a Madri, na Espanha, o oposicionista disse que seguirá “na luta”

Apoiadores venezuelanos de González esperam chegada do opositor de Maduro em frente à base aérea de Madri, na Espanha, neste domingo (8). — Foto: Violeta Santos Moura/Reuters

Apoiadores venezuelanos de González esperam chegada do opositor de Maduro em frente à base aérea de Madri, na Espanha, neste domingo (8). — Foto: Violeta Santos Moura/Reuters 

Leia a transcrição do áudio na íntegra: 

“Estimados amigos, antes de tudo, recebam um cordial e afetuoso cumprimento, junto com minhas palavras de agradecimento pelas expressões de solidariedade recebidas de muitos de vocês. Queria informar que hoje, pela manhã, cheguei a Madri. Minha saída de Caracas foi cercada de episódios de pressões, coações e ameaças de não permitirem minha partida. Confio que em breve continuaremos a luta pela liberdade e pela recuperação da democracia na Venezuela. Um forte abraço a todos”.

Segundo o site de notícias Bloomberg, González passou mais de um mês refugiado na Embaixada da Holanda em Caracas, após as eleições de 28 de julho, antes de se dirigir à representação diplomática espanhola. 

Aliada de González, María Corina Machado justificou o asilo político do candidato dizendo que, na Venezuela, “sua vida corria perigo, e as crescentes ameaças, citações judiciais, ordens de apreensão e até as tentativas de chantagem e da coação de que ele foi objeto demonstram que o regime [chavista] não tem escrúpulos nem limites em sua obsessão de silenciá-lo”.