Os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz serão julgados no dia 30 de outubro no Tribunal de Justiça do Rio.
Por g1 Rio
Em depoimentos no STF, assassinos confessos de Marielle discordam sobre arma usada para o crime
Os ex-policiais militares e assassinos confessos de Marielle Franco e Anderson Gomes tiveram o júri popular marcado para o dia 30 de outubro. A reunião que decidiu a data foi feita nesta quinta-feira (12) no Fórum Central do Rio em uma reunião especial entre juizado, Ministério Público, assistentes de acusação e defesa dos réus.
Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz vão a júri popular no 4º Tribunal do Júri do Rio, no Centro da capital, a partir das 9h. Durante a audiência, ficou decidido que os depoimentos do delegado Giniton Lages e do policial civil Marco Antônio de Barros Pinto não serão tomados no julgamento. Eles constavam no rol de testemunhas.
Também foi aceito o pedido do advogado de Ronnie Lessa para que o presídio onde ele está reserve o dia 29, véspera do júri, para uma entrevista, de forma a agilizar o início da sessão. Por fim, foi pedida a autorização ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, para a realização.
Contradições no STF
Réus confessos pelo assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz deram versões diferentes em seus depoimentos no Supremo Tribunal Federal (STF), este mês.
Um dos pontos dos depoimentos que divergem é a origem da arma utilizada no crime: a submetralhadora MP5, de calibre nove milímetros.
Em seu relato, Lessa disse que recebeu a MP5 das mãos de Edmílson Oliveira da Silva, o Macalé. A arma, segundo Lessa, foi adquirida junto ao ex-assessor de Domingos Brazão no Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ), Robson Calixto da Fonseca, o Peixe.
Brazão e seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão, estão presos acusados de serem os mandantes do crime. Segundo a investigação, Macalé foi um intermediário entre Lessa e os dois.
“Ele só aceitaria (a MP5) se ele verificasse a arma em todos os sentidos. Inclusive, se tinha munição”, disse Lessa.
Élcio de Queiroz, motorista do Cobalt prata, usado no crime contou uma outra história: que a MP5 era de Lessa e que havia sido adquirida meses antes do crime.
“Ele tinha muito carinho pela arma”, disse Élcio sobre Lessa.
Até no descarte da MP5, a história contada na audiência é diferente. Lessa fala que viu Macalé entregando a arma ao miliciano Marcus Vinícius Reis dos Santos, o Fininho, em Rio das Pedras.
Élcio diz que Lessa lhe contou que serrou a arma e jogou no mar da Barra da Tijuca. Buscas foram feitas na região e nada foi encontrado.
Ronnie Lessa em depoimento nesta terça-feira (27) no STF — Foto: Reprodução
Motivação: outra divergência
Outro ponto de discordância entre os executores é que Élcio falou que ouviu de Lessa que o crime era de cunho “pessoal”. Questionado pelo representante da PGR, o promotor Olavo Pezzotti, Élcio conta que isso só faria sentido se houvesse algum caso de afronta de Marielle com Lessa.
“Nunca ouvi nada da senhora Marielle. Não sabia que ele iria praticar o homicídio. Me senti enganado”, revela Élcio.
Lessa chegou a dizer que estava há meses de Marielle. Ele também conta que os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão infiltraram uma pessoa no PSOL, Laerte Silva de Lima para passar informações sobre a vereadora.
Aumento de patrimônio
Élcio conta que após o crime percebeu o amigo de 30 anos ter um aumento patrimonial. Segundo ele, Lessa comprou uma lancha após destruir a quem tinha em um acidente, comprou um carro novo para a mulher e colocou blindagem nova, além de viajar para os Estados Unidos.
“Confrontei o Ronnie. Falei: ‘olha, a madrinha (era como Élcio chamava Elaine, mulher de Lessa) está incomodada por você pagar dois aluguéis e ter tanto gasto’. Eu percebo que não tem lastro. Tudo bem, tinha gatonet, máquinas, salário da PM, mas não dava. Passei a desconfiar”, contou Élcio.
Ronnie Lessa, em sua delação, contou que receberia como recompensa dois terrenos no alto de um morro no bairro do Tanque, em Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade.
O ex-policial também era conhecido por comercializar armas. Ele responde um processo, em sigilo, na Justiça Federal. Horas depois de ser preso, a Polícia Civil apreendeu 117 fuzis M-16 incompletosna casa de um amigo de Lessa. O armamento era falsificado, mas se montado seria capaz de atirar.