A possibilidade de que o próximo papa seja alguém nomeado cardeal pelo próprio Francisco é real, mas não garantida. Atualmente, o número de cardeais com menos de 80 anos — os únicos com direito a voto — ultrapassa o limite de 120 estabelecido pelo papa Paulo VI. Isso exigirá um número maior de votos para a eleição do novo pontífice.
Francisco não moldou o Colégio Cardinalício apenas com nomes alinhados à sua visão. Pelo contrário, promoveu uma composição diversa, incluindo representantes de vertentes progressistas, conservadoras, reformistas e tradicionalistas. Uma das principais transformações promovidas por ele foi geopolítica: ao distribuir as nomeações por regiões menos representadas, tornou este Conclave um dos mais imprevisíveis da história recente da Igreja.

Há rumores de que, pouco antes de sua internação, o próprio papa já estaria se articulando em torno de seu sucessor. Um nome que surpreende entre os favoritos é o do cardeal Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalém. Franciscano, nascido em Bérgamo, viveu mais de três décadas na Terra Santa e é respeitado por israelenses e palestinos — o que o tornaria um papa italiano com uma rara visão do Oriente Médio.
Outro possível sucessor é o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin. Embora nem sempre essa posição leve ao papado, seu perfil diplomático moderado e sua experiência o colocam como uma escolha de consenso dentro da Cúria. Com o jubileu se aproximando, sua eleição poderia ocorrer de forma rápida para evitar um longo período de vacância.
Caso o colégio opte por alguém com perfil mais pastoral e progressista, desponta o nome de Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana. Diplomático, Zuppi agrada tanto aos setores conservadores quanto aos grupos LGBTQIA+. Já o brasileiro Sérgio da Rocha, arcebispo de Salvador, também figura entre os nomes cogitados. Conselheiro próximo de Francisco desde 2023, é defensor das reformas e do acolhimento de minorias.
Entre os conservadores, o húngaro Péter Erdő, arcebispo de Budapeste, é uma figura de destaque. Com passado marcado por perseguição religiosa sob o comunismo, tem atuação equilibrada em questões sensíveis como a imigração. Da África, cresce o prestígio do cardeal Fridolin Ambongo Besungu, do Congo, crítico à recente autorização de bênçãos a casais homossexuais.
O cardeal filipino Luis Antonio Tagle continua sendo uma presença constante nas especulações. Com raízes asiáticas e grande apreço de Francisco e da Cúria, é considerado uma ponte entre tradição e inovação. Outro nome respeitado é o austríaco Christoph Schönborn — teólogo próximo a Bento XVI, mas igualmente comprometido com a inclusão e com o combate aos abusos sexuais.
A França também pode voltar ao papado com Jean-Marc Aveline, arcebispo de Marselha, uma cidade símbolo da convivência inter-religiosa. Seria o primeiro papa francês desde o fim do papado de Avignon, há mais de 600 anos.
Com tantos perfis possíveis, de diferentes continentes — incluindo nomes da Espanha, Malta, Holanda, Canadá e até dos Estados Unidos —, tudo é especulação até o momento decisivo. E o velho ditado do Vaticano continua atual: “quem entra no Conclave como favorito, sai de lá como cardeal.”