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Dólar tem forte queda e fecha em R$ 5,47, após Powell dizer que ‘chegou a hora’ de cortar juros nos EUA

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Com o clima positivo, o Ibovespa, principal índice de ações da bolsa, subiu 0,32%, aos 135.608 pontos.

Por g1

O dólar fechou em forte queda nesta sexta-feira (23), com investidores repercutindo o discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), no Simpósio de Jackson Hole. O Ibovespa fechou em alta. 

Nome mais aguardado do evento, Powell disse que “chegou a hora de ajustar a política (monetária)”, o que os investidores interpretam como um sinal claro de que o Fed vai iniciar um corte em suas taxas de juros no próximo mês. 

“Faremos tudo o que pudermos para apoiar um mercado de trabalho forte, ao passo em que progredimos mais em direção à estabilidade de preços”, disse Powell, que também garantiu que a instituição “não busca e nem recebeu bem uma desaceleração nas condições do mercado de trabalho”.

Os juros americanos estão no maior patamar em mais de 20 anos, entre 5,25% e 5,50% ao ano. E havia expectativa desde o início do ano para o momento em que o Fed fosse iniciar o ciclo de redução das taxas. 

Depois de vários adiamentos por conta dos dados mais fortes de inflação e atividade da economia americana, o mercado de trabalho dos EUA começou a mostrar um desaquecimento no início deste mês e os resultados de inflação voltaram a mostrar que os preços estão mais comportados.

Com isso, Powell afirmou nesta sexta-feira que o atual nível das taxas de juros dá “amplo espaço” para que o Fed responda aos riscos, inclusive os números baixos de emprego. Essa afirmação joga ainda mais luz a uma dúvida que tomou os mercados nas últimas semanas: qual será a magnitude do corte promovido pelo Fed em sua próxima reunião. 

Agora que Powell quase confirma que a instituição vai iniciar seu ciclo de afrouxamento dos juros em setembro, o mercado faz novas apostas sobre o tamanho do corte: de 0,25 ou 0,50 ponto percentual. 

Sobre isso, Powell disse que “o momento e o ritmo dos cortes das taxas dependerão dos dados, das perspectivas e do equilíbrio de riscos”.

Dólar

O dólar recuou 1,97%, cotado a R$ 5,4794. Na mínima, chegou a R$ 5,4744. Veja mais cotações.

Com o resultado, acumulou:

  • alta de 0,21% na semana;
  • recuo de 3,09% no mês; 
  • alta de 12,92% no ano.

No dia anterior, a moeda americana teve alta de 1,98%, cotada em R$ 5,5894.

Ibovespa

O Ibovespa subiu 0,32%, aos 135.608 pontos. Na máxima, marcou 136.478 pontos. 

Com o resultado, o índice acumulou:

  • alta de 1,24% na semana;
  • avanço de 6,23% no mês; 
  • ganhos de 1,06% no ano.

Na véspera, o índice fechou em queda de 0,95%, aos 135.173 pontos.

O que está mexendo com os mercados?

O mercado repercutiu o discurso de Powell com atenção, com as novas pistas sobre as taxas de juros nos Estados Unidos nos próximos meses. 

O presidente do Fed falou no Simpósio de Jackson Hole, uma conferência que acontece todo ano nos Estados Unidos, e é tratada por investidores da Faria Lima (o coração financeiro de São Paulo) e do mundo como o evento mais importante de economia no planeta. Saiba mais sobre o evento aqui.

Powell disse que “sua confiança aumentou” em relação à desaceleração da inflação até a meta de 2%. Em julho, a inflação acumulada em 12 meses foi de 3,2%. 

“Embora a tarefa não esteja concluída, fizemos um grande progresso”, disse o presidente do Fed sobre o controle dos preços.

A preocupação se virou com maior força, então, para o mercado de trabalho. “Os riscos de alta para a inflação diminuíram. E os riscos de queda para o emprego aumentaram”, afirmou. 

Embora Powell tenha dito que o salto de quase um ponto percentual na taxa de desemprego no último ano se deveu, em grande parte, ao aumento da oferta de mão de obra e à desaceleração das contratações, e não ao aumento das demissões, ele também foi enfático ao dizer que o Fed quer evitar qualquer erosão adicional.

A atual taxa de desemprego de 4,3% está próxima do nível que as autoridades do Fed consideram compatível com uma inflação estável no longo prazo 

O mercado também repercutiu uma entrevista de outro dirigente, Raphael Bostic, presidente do Fed de Atlanta. À CNBC, ele disse que o Fed não pode esperar que a inflação chegue a 2% para começar a se mover e destacou que a instituição está perto de cortar os juros. 

“Estamos próximos… os números estão começando a se mover em uma direção que sugere que nossa política teve seu efeito e podemos iniciar o caminho de volta a uma postura normal”, afirmou Bostic.

“Os dados chegaram de uma forma que sugere que será apropriado estar mais perto de mudar (os juros) do que mais longe e, para mim, só quero ter certeza de que os próximos dados sejam consistentes com isso.” 

No fim de julho, o Fed decidiu manter as taxas entre 5,25% e 5,50% ao ano. Mas a ata, divulgada nesta quarta-feira, mostra que “a grande maioria” dos agentes “destacou que, se os dados continuassem a vir de acordo com o esperado, provavelmente seria apropriado flexibilizar a política monetária na próxima reunião”

E isso aumentou ainda mais o otimismo do mercado com os ativos de risco, como o mercado de ações e mercados de países emergentes, que tendem a se beneficiar de momentos de juros baixos nos Estados Unidos. 

A ata do Fed mostra que as autoridades estavam bastante inclinadas a um corte na taxa de juros em setembro, mas “várias delas” estariam até mesmo dispostas a reduzir os custos de empréstimos imediatamente, em julho.

Essa é a linguagem das atas do Fed, em que o grupo de tomadores de decisão são descritos entre “todos”, “a grande maioria”, “vários” etc. Veja abaixo alguns destaques da ata da reunião do Fed de julho: 

  • “a grande maioria” dos agentes “destacou que, se os dados continuassem a vir de acordo com o esperado, provavelmente seria apropriado flexibilizar a política monetária na próxima reunião”;
  • “muitas” das autoridades consideram a postura dos juros restritiva e “alguns participantes” argumentaram que, em meio a um arrefecimento das pressões inflacionárias, não mudar a taxa básica poderia pesar sobre a atividade econômica;
  • embora todas as autoridades estivessem de acordo com a manutenção dos juros, “vários” disseram que a redução da inflação em meio a um aumento no desemprego “forneceu um argumento plausível para a redução da meta de 25 pontos-base nesta reunião”;
  • as autoridades veem o mercado de trabalho como tendo retornado (em grande parte) ao ponto em que estava antes do início da pandemia de Covid-19: “forte, mas não superaquecido”;
  • um grupo cada vez menor de agentes teme que um afrouxamento prematuro da política monetária possa provocar a retomada da inflação.

Uma queda nos juros dos EUA reduz os rendimentos dos títulos do Tesouro americano (as Treasuries) e força os investidores a tomarem mais risco para terem rentabilidades melhores. Isso beneficia o mercado de ações como um todo e pode desvalorizar o dólar perante outras moedas, já que, neste movimento, dinheiro é retirado do mercado de títulos públicos americano e pode migrar para outros países. 

Os juros no Brasil também ficam no radar dos investidores, em meio às dúvidas sobre a possibilidade de novos aumentos da taxa Selic pelo BC para controlar a inflação que voltou a acelerar. O diretor de política monetária e principal cotado para a presidência do BC, Gabriel Galípolo, falou nesta quinta-feira em evento da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), em São Paulo. 

Em um discurso duro, Galípolo afirmou que suas falas recentes não colocaram o BC em um “corner” em relação ao que será feito com a Selic em setembro, mas repetiu que a autarquia subirá a taxa básica se necessário. 

Nos últimos dias têm ganhado força entre instituições financeiras a avaliação de que, em função de falas recentes de Galípolo, consideradas “hawkish” (duras com a inflação), o BC terá que subir a Selic em pelo menos 25 pontos-base em setembro mesmo em meio à relativa melhora do cenário externo. 

“Inflação fora da meta é situação desconfortável, e ter que subir juros é situação cotidiana para quem está no BC”, afirmou. Os comentários de Galípolo reforçaram a percepção de que uma alta da Selic está de fato a caminho.