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Em entrevista ao Washington Post, Moraes afirma que não pretende ceder “nem um milímetro”

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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu entrevista ao jornal norte-americano The Washington Post, publicada nesta segunda-feira (18), na qual reforçou que não pretende recuar em suas decisões envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Segundo Moraes, “não existe a menor possibilidade de recuar nem um milímetro”, mesmo após as sanções aplicadas contra ele pelo governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump. O ministro afirmou que seguirá os trâmites legais: “Receberemos a acusação, analisaremos as provas, e quem tiver que ser condenado será condenado; quem tiver que ser absolvido será absolvido”.

Moraes foi incluído na lista de sanções da Casa Branca com base na Lei Magnitsky, norma voltada a punir estrangeiros acusados de corrupção ou violações de direitos humanos. O governo americano justificou a medida alegando que o ministro estaria conduzindo uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro, apesar de o processo tramitar dentro das regras da Justiça brasileira.

Com a decisão, todos os bens que Moraes eventualmente possua em território americano foram bloqueados, assim como qualquer transação com empresas ou cidadãos dos EUA — incluindo operações financeiras por meio de cartões de crédito de bandeira americana. Além disso, ele foi alvo de críticas do próprio Trump e de integrantes de seu governo.

Julgamento no STF

Na semana passada, a Primeira Turma do STF marcou para os dias 2 a 12 de setembro o julgamento do núcleo central da suposta trama golpista da qual Bolsonaro faz parte, juntamente com outros sete acusados.

Na entrevista, Moraes destacou a importância desse julgamento e foi descrito pelo Washington Post como o “xerife da democracia”. O jornal também lembrou que seus “decretos expansivos” impactaram até mesmo redes sociais globais, como o X, de Elon Musk.

Moraes comentou ainda sobre as diferenças de percepção entre os dois países: “Entendo que, para a cultura americana, seja mais difícil compreender a fragilidade da democracia, porque nunca houve um golpe lá. O Brasil, por outro lado, viveu a ditadura de Vargas, duas décadas de regime militar e várias tentativas de golpe. Quem é mais atacado por uma doença cria anticorpos mais fortes e busca uma vacina preventiva”.

Sobre as críticas de apoiadores de Bolsonaro, classificou-as como “narrativas falsas” que prejudicam a relação histórica entre Brasil e Estados Unidos. De acordo com ele, essas desinformações ajudaram a alimentar as sanções impostas por Washington, que chegaram a incluir uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Moraes atribuiu a articulação dessas medidas ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, que está nos EUA desde fevereiro.

Questionado sobre as restrições e ameaças que vem recebendo, Moraes respondeu: “É agradável passar por isso? Claro que não. Mas é necessário defender a democracia. Enquanto houver necessidade, a investigação continuará”.