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Estados Unidos e Rússia solicitam reunião do Conselho de Segurança da ONU após centenas de mortes na Síria.

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Os Estados Unidos e a Rússia solicitaram ao Conselho de Segurança da ONU, neste domingo (9), uma reunião a portas fechadas para a segunda-feira (10), devido à intensificação da violência na Síria, segundo diplomatas citados pela agência Reuters.

De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, organização sediada no Reino Unido que monitora a situação no país, entre sábado e domingo foram registradas 745 mortes de civis, além de 125 membros das forças de segurança sírias e 148 combatentes leais ao ex-ditador Bashar al-Assad. O governo sírio não divulgou um número oficial de vítimas.

A onda de violência teve início após o novo governo reprimir uma insurgência da minoria alauíta, grupo ao qual Assad pertence, nas províncias de Latakia e Tartous.

O presidente Ahmad al-Sharaa declarou neste domingo que os responsáveis pelo “derramamento de sangue” serão responsabilizados e punidos. Ele também anunciou a criação de uma “comissão independente” para investigar violações contra civis.

“Serão responsabilizados, com total determinação, todos aqueles envolvidos na morte de civis, nos abusos contra a população, no uso excessivo da autoridade estatal ou na exploração do poder para benefício próprio. Ninguém estará acima da lei”, afirmou Sharaa em um discurso transmitido em rede nacional.

Sharaa, cujo movimento rebelde depôs Assad em dezembro, acusou apoiadores do ex-ditador e potências estrangeiras não especificadas de estimular a instabilidade no país.

“Neste momento crítico, enfrentamos uma nova ameaça: tentativas de remanescentes do antigo regime e de seus aliados externos de instigar conflitos e arrastar nosso país para uma guerra civil, buscando dividi-lo e comprometer sua unidade e estabilidade”, declarou.

Os alauítas contestam a versão do governo, afirmando que vêm sendo perseguidos por sunitas radicais que assumiram o poder em dezembro e os consideram “hereges”.

Rami Abdulrahman, diretor do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, relatou que entre as vítimas civis há mulheres e crianças alauítas. Ele destacou que o número de mortos é um dos mais altos desde o ataque químico perpetrado pelas forças de Assad em 2013, que deixou cerca de 1.400 mortos nos arredores de Damasco.

A Federação de Alauítas na Europa acusa o novo governo sírio de conduzir uma “limpeza étnica sistemática”.

Reações internacionais

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, instou as autoridades sírias a responsabilizar “terroristas islâmicos radicais”. “Os Estados Unidos condenam os extremistas islâmicos, incluindo jihadistas estrangeiros, que assassinaram pessoas no oeste da Síria nos últimos dias”, afirmou em comunicado.

No Reino Unido, o ministro das Relações Exteriores, David Lammy, classificou os relatos de mortes de civis nas regiões costeiras da Síria como “horríveis” e cobrou das autoridades de Damasco garantias de proteção à população.

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, exigiu o fim imediato das mortes de civis, enquanto a Alemanha instou “com veemência todas as partes envolvidas a cessar a violência”.

Denúncias de massacres

O Ministério do Interior sírio anunciou, neste domingo, o envio de “reforços adicionais” para “restaurar a calma” em Qadmus, uma localidade na província de Tartous, onde o governo estaria perseguindo “os últimos homens leais ao antigo regime”.

A agência de notícias estatal Sana relatou “confrontos violentos” em Taanita, um vilarejo montanhoso da mesma província, onde supostos “criminosos de guerra vinculados ao regime deposto e seus apoiadores” estariam escondidos.

Na província de Latakia, um comboio de 12 veículos militares entrou no vilarejo de Bisnada, onde forças de segurança realizam buscas em residências, segundo um fotógrafo da agência France Presse.

“Mais de 50 amigos e familiares foram assassinados”, relatou um morador alauíta de Jablé, que preferiu manter anonimato.

De acordo com ele, as forças de segurança e milicianos aliados “recolheram os corpos com escavadeiras e os enterraram em valas comuns, chegando a jogar cadáveres no mar”.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos e ativistas divulgaram vídeos que mostram dezenas de corpos e soldados atirando em três pessoas à queima-roupa. A AFP, no entanto, não conseguiu verificar a autenticidade das imagens.

Em Damasco, forças de segurança dispersaram um protesto contra os massacres, após manifestantes contrários invadirem a área gritando “Estado sunita!” e entoando palavras de ordem contra a comunidade alauíta.