Irã aprova fechamento do Estreito de Ormuz e ameaça abalar mercados globais
O Parlamento do Irã aprovou neste domingo (22) uma proposta para fechar o Estreito de Ormuz — uma medida de retaliação aos bombardeios realizados pelos Estados Unidos contra instalações nucleares iranianas, no contexto da guerra entre Irã e Israel. A decisão ainda precisa da confirmação do Conselho Supremo de Segurança Nacional e do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei.
Mesmo antes de ser oficializado, o possível bloqueio da principal rota marítima para o transporte de petróleo já provoca forte tensão nos mercados internacionais.
O Estreito de Ormuz é responsável por cerca de 20% de todo o petróleo comercializado no mundo, além de ser uma rota crucial para o gás natural liquefeito (GNL), também com 20% do comércio global. O fechamento pode provocar escassez da commodity e disparada no preço do barril de petróleo.
A alta no petróleo tende a gerar efeitos em cadeia, como aumento dos preços da energia, dos transportes e dos alimentos, pressionando a inflação global. Os mercados financeiros devem reagir negativamente, com bolsas em queda e investidores buscando ativos mais seguros, como ouro e dólar.
Impacto imediato nos preços
De acordo com o economista André Perfeito, o preço do petróleo pode subir até 20% nos próximos dias. O barril do tipo Brent, que atualmente está em US$ 77,27, pode atingir rapidamente a marca de US$ 92,00. Se o conflito se intensificar, a cotação pode ultrapassar os US$ 110 — patamar próximo ao registrado no auge da guerra entre Rússia e Ucrânia, em 2022.
Segundo ele, além da valorização do petróleo, o dólar também deve se fortalecer diante do aumento da instabilidade global. Ainda assim, o especialista lembra que o Brasil pode ser menos impactado nesse primeiro momento, por ser um grande produtor de petróleo.

O JPMorgan alerta que, em um cenário extremo, o bloqueio total do estreito ou uma retaliação dos maiores exportadores da região pode levar o barril a valores entre US$ 120 e US$ 130.
Riscos de inflação global
Para analistas do banco norte-americano, o fechamento do estreito representa o “pior cenário possível”, com risco de elevação da inflação nos EUA para até 5% — hoje, a taxa é de 2,4%.
O especialista em comércio exterior Jackson Campos afirma que o impacto global seria profundo, com aumento no preço de combustíveis, fretes mais caros e elevação no valor final de produtos industrializados e alimentos.
“No Brasil, os efeitos seriam percebidos no preço da gasolina, diesel, transporte e até nos alimentos. Empresas que dependem de importações também podem enfrentar atrasos e escassez de insumos”, aponta Campos.

Reação dos mercados
A expectativa é de que os mercados financeiros abram em forte queda nesta segunda-feira (23). Segundo analistas, há uma migração para ativos considerados mais seguros, como o dólar e o ouro, comportamento típico de momentos de alta incerteza geopolítica.
“Se o bloqueio se confirmar, os mercados podem piorar ainda mais”, alerta Marcos Praça, diretor da Zero Markets Brasil. “Por enquanto, o pior ainda não aconteceu, mas o alerta está ligado.”
Mark Spindel, diretor da Potomac River Capital, afirmou à agência Reuters que ainda não é possível medir o tamanho dos danos, mas que a incerteza aumentará a volatilidade, especialmente no setor de energia.
Além disso, as tensões se intensificaram após uma declaração na TV estatal iraniana, na qual um comentarista afirmou que “todo cidadão americano ou militar na região é agora um alvo legítimo”. A mensagem foi seguida de um aviso direto a Trump: “Você começou. Nós vamos terminar.”
Outro sinal de tensão foi a queda nas criptomoedas neste domingo. O ether caiu quase 10%, e o bitcoin recuou cerca de 3%, sinalizando a busca por ativos mais estáveis por parte dos investidores.