O Brasil participa da marcha atlética nas Olimpíadas há 36 anos; conquista inédita para o esporte brasileiro é o resultado de uma união familiar.
Por Jornal Nacional
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Nesta quinta-feira (1º), o Brasil começou o dia olímpico, em Paris, com um feito inédito: uma medalha na marcha atlética, a prata conquistada por Caio Bonfim.
Quando olhou para trás no momento mais importante da prova, Caio Bonfim não sentiu apenas a perseguição do atual campeão mundial. O espanhol Álvaro Martín se aproximava, mas o brasileiro também carregava a pior memória da carreira.
“Cara, eu sempre sofri com isso, o preconceito em uma prova europeia, e aí tem dois sul-americanos liderando a prova. Alguém tinha que tomar a falta”, diz Caio Bonfim.
Ele marchava para o pódio nos Jogos do Rio, em 2016, quando recebeu uma punição e ficou em quarto lugar.
Disputar as Olimpíadas já contrariava as previsões médicas. Na infância, as pernas de Caio ficaram muito arqueadas. Mesmo com uma cirurgia, os médicos não garantiram que ele poderia andar.
Mas nesta quinta-feira (1º), Caio foi longe desde os primeiros passos. Liderou a prova em diferentes momentos do circuito de 20 km. Uma foto do momento em que o brasileiro estava na frente chamou a atenção. Quando ela é espelhada, os atletas formam uma imagem semelhante ao mapa do Brasil – com o Caio na ponta.
A apenas 2 km do fim, o brasileiro recebeu duas advertências. O atleta precisa ter contato com o solo o tempo todo na marcha atlética. Tirar os dois pés do chão ao mesmo tempo ou dobrar a perna de forma inadequada é considerado uma falta. E três faltas levam a uma punição de dois minutos, o que poderia ser o fim para o brasileiro.
Buscar o equatoriano Brian Pintado seria impossível. Mas nem o cansaço o impediu de atravessar o Rio Sena com firmeza nos metros finais.
“A ficha ainda não caiu. Meu quarto Jogos Olímpicos. E, hoje, consegui ser prata. PParis agora faz parte da minha história, Brasil”, comemora Caio Bonfim.
O Brasil participa da marcha atlética nos Jogos Olímpicos há 36 anos, e essa conquista é o resultado de uma união familiar. Gianete Bonfim foi octacampeã brasileira e hoje treina o próprio filho.
“Eu sempre dizia para ele: ‘Deus só pode ter algo muito surreal na tua vida, você já escapou de cada coisa’. E a gente está sempre junto, a gente é uma família muito ligada”, afirma.
O pai, João Sena, é treinador de marcha atlética há 30 anos.
“O Caio é um lutador, um desbravador. Ele está deixando um legado para a marcha atlética brasileira que está vindo e vem bem”, diz.
“Nessa prova aí, nós não estamos brincando de rebolar. Nós somos uma potência, nós somos medalhas olímpicas”, afirma Caio Bonfim.
Uma festa em família no dia em que Caio marchou para inspirar as próximas gerações.
Entrevista
Karine Alves, repórter: Cai, cadê a medalha? A medalha ainda não está com você. Só amanhã?
Caio Bonfim: Amanhã é a cerimônia de premiação no estádio de atletismo. Essa é a tradição. Estamos contando as horas para receber essa tão sonhada medalha.
Repórter: Tão sonhada medalha por você e, também, pelos seus pais. O que significou tudo isso para a família?
Caio Bonfim: Um sonho que nasceu deles lá com o projeto, minha mãe virar atleta, sonho olímpico. A gente consegue ir para a primeira Olimpíada. E ter esse sonho realizado e poder falar assim: ‘Nós somos medalhistas olímpicos’. Sou treinado pelos meus pais. Acho que é muito legal quando a gente tem essa oportunidade de vivenciar esses momentos com os pais. E o esporte me deu muita alegria, experiência com eles e me tornar amigo deles. Isso foi muito importante para mim.
Repórter: E está sendo muito importante para o Brasil, também, conhecer mais da marcha atlética. O que representa essa vitória, essa medalha de prata, na sua opinião, para os brasileiros, para o crescimento da modalidade também?
Caio Bonfim: A gente sempre sonhou em popularizar a marcha atlética. A gente sabia que as conquistas individuais trariam essa popularização. Com a medalha olímpica, acho que é natural acontecer isso. Então, fico feliz porque traz mais peso para essa medalha, mais responsabilidade para novas pessoas tenham a oportunidade e que nasçam novos marchadores no Brasil.