Mas muitos ocupam vagas que não exigem essa formação. E, na última década, o salário médio de quem fez faculdade diminuiu.
Por Jornal Nacional
02/12/2024 21h03 Atualizado há uma hora
Número de trabalhadores com ensino superior completo chega ao maior nível já registrado pelo IBGE — Foto: Reprodução/TV Globo
O Brasil nunca teve tantos trabalhadores com ensino superior completo. Mas muitos ocupam vagas que não exigem essa formação. E, na última década, o salário médio de quem fez faculdade diminuiu.
Aluna bolsista na escola, estudante universitária beneficiada pelo ProUni, a Mariana não imaginava que chegaria tão longe.
“Eu sou advogada, faço pós-graduação em direito societário, e também planejo daqui a alguns anos estudar fora”, diz Mariana Magalhães, advogada.
A revolução na vida da Mariana não é um fenômeno isolado.
“Eu venho de uma família preta, venho de uma família grande, onde até as pessoas mais velhas como minhas tias estão acessando o ensino superior e estão conseguindo se abrir mais também para o mercado de trabalho e ter mais acesso a outras vagas que antes elas nem poderiam imaginar tendo apenas o ensino médio”.
Em 12 anos, desde que o IBGE começou a fazer essa pesquisa, o número de pessoas com diploma de curso superior praticamente dobrou no mercado de trabalho. Hoje são mais de 24 milhões.
A taxa de desemprego entre quem fez faculdade é a mais baixa já registrada: pouco mais de 3%. O economista Lucas Assis diz que já dá para falar em uma tendência.
“Nas últimas décadas, de um modo geral, houve uma massificação do acesso ao ensino superior e isso se refletiu no mercado de trabalho. Essa é uma tendência que deve prevalecer nos próximos anos, com contingente ainda bastante elevado de pessoas escolarizadas”, explica Lucas Assis, economista da Tendências Consultoria.
Os números só desandam quando o assunto é a renda. Levando em conta a inflação, o salário médio de quem tem diploma universitário caiu quase 12% em 12 anos. É que o mercado de trabalho não oferece vagas suficientes pra absorver os mais qualificados.
Hoje, um em cada três trabalhadores tem formação acima da exigida na função que ocupa.
“A gente viu um aumento da quantidade de pessoas com ensino superior, mas ao mesmo tempo um aumento da informalidade desse grupo e uma redução da renda. Então são mais pessoas trabalhando por conta própria, em aplicativo, sem carteira assinada, mas que contam com o ensino superior”, ressalta o economista.
O trabalho como motorista de aplicativo, que bancou a faculdade de jornalismo do Felipe, hoje virou o sustento dele. Formado há quatro anos, ele ainda não conseguiu uma vaga na área.
“Se eu falar para você que eu estou satisfeito com o aplicativo, eu estou mentindo. Mas hoje eu entendo que o aplicativo é uma oportunidade também de eu pagar minhas contas. Eu não posso viver de sonho só. Continuo sonhando e correndo atrás do que eu quero e vou chegar lá, mas eu entendo que o aplicativo hoje ele trabalha com a minha realidade”, relata Felipe Sousa, jornalista e motorista de aplicativo.