Regime teocrático enfrenta dilema para responder à morte de seu principal aliado na região.
Hassan Nasrallah, chefe do grupo extremista Hezbollah em foto de 2016. — Foto: Aziz Taher/Reuters
O assassinato do líder do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, numa operação denominada “Nova Ordem” pelas Forças de Defesa de Israel marca, em princípio, a desordem no equilíbrio de forças que conduziam o Oriente Médio, com consequências imprevisíveis. Todas as atenções pairam agora na resposta do Irã, o financiador da milícia xiita do Líbano, que perdeu seu maior aliado na região — um comandante e guia religioso, com laços estreitos com o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei.
O Hezbollah sobreviverá e Nasrallah será substituído, assim como ele próprio assumiu, há três décadas, o lugar de Abbas al-Musavi, então secretário-geral do Hezbollah, também assassinado por Israel. A estrutura da organização, contudo, foi debilitada nos últimos dez dias com a série de assassinatos seletivos em seu comando e a detonação coordenada de pagers e walkie-talkies usados para a comunicação.
Num indício de que se fragilizou, o Hezbollah se mostrou hesitante em responder à ofensiva perpetrada por Israel, apesar de ainda reter uma capacidade significativa de seu arsenal. Isso fortaleceu Netanyahu e seus militares a uma escalada no conflito que, com a eliminação de Nasrallah, rompeu o status quo regional e avançou nas chamadas linhas vermelhas.
O primeiro-ministro israelense deixou claro, num pronunciamento à nação, que o trabalho não foi concluído com o assassinato do líder do Hezbollah. E, como fez na véspera em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, mandou um recado direto ao Irã: “Aqueles que nos atacam, nós os atacamos. Não há lugar no Irã ou no Oriente Médio que o longo braço de Israel não possa alcançar.”
A saída para a reestruturação da milícia xiita passa pelo Irã, assim como a vingança à morte de seu líder. A escalada no conflito joga o regime num dilema para manter a credibilidade como ator essencial na região: apoiar o Hezbollah, com ataques a Israel por meio de seus aliados leais do chamado “eixo da resistência” na Síria, no Iraque e no Iêmen, ou envolver-se diretamente na resposta e ser arrastado para uma guerra com seu arqui-inimigo.
Até agora, o Irã demonstrou não ter interesse em entrar numa guerra aberta com Israel e, em última análise, com os EUA. Prova disso é que o regime não buscou vingar o assassinato do chefe político do Hamas, Ismail Haniyeh, em solo iraniano e atribuído a Israel. A dúvida é se a morte de Nasrallah rompeu essa barreira.
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