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Cúpula histórica da Otan: aliados ampliam gastos militares sob pressão de Trump e tensão com a Rússia

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Cúpula da Otan na Holanda marca compromisso histórico com aumento de gastos militares

A cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), realizada nesta quarta-feira (25) em Haia, na Holanda, resultou em um acordo considerado histórico: 31 dos 32 países-membros — com exceção da Espanha — assumiram o compromisso de investir 5% de seus Produtos Internos Brutos (PIBs) em defesa até 2035.

O pacto, articulado sob intensa pressão dos Estados Unidos, representa uma das decisões mais ambiciosas da história da aliança e foi interpretado como uma vitória política do presidente norte-americano, Donald Trump. Em troca do apoio à proposta, Trump reafirmou seu “compromisso inabalável” com a cláusula de defesa coletiva da Otan, que prevê resposta conjunta a ataques contra qualquer país-membro.

No ano anterior, Trump havia gerado tensão ao ameaçar não defender aliados que não estivessem investindo o suficiente em suas forças armadas, levantando dúvidas sobre a real disposição dos EUA em cumprir o artigo 5º da aliança.

Quatro pontos-chave da cúpula:

1. Meta inédita de investimentos em defesa

Os líderes da Otan definiram como meta aplicar, até 2035, 5% do PIB nacional em defesa e segurança, uma medida que responde diretamente ao aumento das ameaças globais — em especial à crescente agressividade da Rússia na Europa.

O texto final do encontro destaca:

“Os Aliados se comprometem a investir 5% do PIB anualmente em necessidades básicas de defesa, bem como em gastos relacionados à segurança, até 2035, para garantir nossas obrigações individuais e coletivas.”

A proposta foi fortemente impulsionada pelos EUA, que atualmente são os maiores investidores militares do planeta.

2. Vitória política de Trump

Durante o encontro, Trump teve papel central ao pressionar por mais recursos militares por parte dos aliados. Apesar de reafirmar a disposição dos EUA em proteger os demais países da Otan, representantes de outros governos expressaram dúvidas, em privado, sobre a confiabilidade do republicano em cumprir esse compromisso em caso de conflito.

Trump já havia colocado o artigo 5º em questão diversas vezes, inclusive durante sua campanha em 2024.

3. Espanha fica fora do acordo

A Espanha foi o único país a não aderir à meta de 5%. O governo de Madri já havia informado que não teria condições de cumprir o objetivo estipulado. Ainda assim, foi acordado que haverá uma revisão dos investimentos em 2029 para avaliar o progresso e o cenário geopolítico, principalmente em relação à Rússia.

4. Foco na ameaça russa e apoio à Ucrânia

A Otan reafirmou seu apoio à Ucrânia, prometendo mais de 35 bilhões de euros em ajuda militar para 2025. A aliança também destacou a necessidade de fortalecer a defesa aérea na região e reafirmou que o processo de adesão ucraniana à Otan é “irreversível”.

Desde o fim da Guerra Fria, a Rússia tem se oposto de forma agressiva à expansão da Otan em direção às suas fronteiras, considerando-a uma ameaça direta. Apesar de acordos informais feitos nas décadas passadas, nunca houve um tratado oficial impedindo a expansão da aliança.

“Compromisso inabalável” e sinais de divisão

Apesar das divergências, os países reafirmaram sua lealdade ao princípio da defesa coletiva: “um ataque a um é um ataque a todos”. O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, classificou a cúpula como “transformadora”, mesmo diante de tensões internas e desafios de financiamento.

A decisão exige que os países europeus e o Canadá façam investimentos bilionários, num momento em que os EUA — embora ainda líderes em gastos — passam a concentrar sua atenção em regiões como o Oriente Médio e o Indo-Pacífico.