A iniciativa abriu inscrições para novas turmas nesta sexta-feira (2), oferecendo 235 vagas distribuídas entre sete municípios.
O Programa Mulheres Mil, coordenado pela Secretaria de Estado da Educação (Seduc) em parceria com o Ministério da Educação (MEC), abriu inscrições para novas turmas nesta sexta-feira (2). As matrículas, que devem ser realizadas presencialmente pelas candidatas, estarão abertas até o dia 14 de agosto.
Estão sendo oferecidas 235 vagas para os municípios de Jaicós, Simões, Campinas do Piauí, São João do Piauí, Várzea Branca, Piripiri e União, nos cursos de maquiadora e horticultora orgânica.
Em 2024, o programa já beneficiou 1.166 mulheres piauienses. Para 2025, o MEC disponibilizou mais 451 vagas para o Piauí. Atualmente, a iniciativa atende 691 mulheres em situação de vulnerabilidade, incluindo mães de adolescentes em medidas socioeducativas, mulheres trans, catadoras de material reciclável, artesãs, quebradeiras de coco, comunidade de surdas, mulheres indígenas e quilombolas em 14 municípios.
Programa transforma paixão de infância em atuação profissional
Kyra é uma das alunas do Programa Mulheres Mil, que viu na iniciativa uma chance de transformar sua paixão de infância em uma carreira profissional. Em 2024, ela se juntou a mais de 1.000 mulheres no Piauí que foram beneficiadas pelo programa, que oferece cursos práticos como agente de desenvolvimento cooperativista, salgadeira, horticultora orgânica e maquiadora.
Desde pequena, Kyra se encantava com o mundo da maquiagem. Ela passava horas observando seu tio, que era drag, e seus amigos se transformarem com pincéis, pós e batons na casa de sua avó. “Eu ficava sentada na escadinha, fascinada com todo aquele processo. Meu tio e suas amigas trans se preparavam para festas, e eu aprendia só de assistir”, relembra Kyra. Essa experiência não só alimentou sua paixão pela maquiagem, mas também a ajudou a descobrir mais sobre si mesma.
Kyra, uma mulher trans, encontrou na maquiagem sua primeira e principal ferramenta de autoafirmação. Essa paixão a acompanhou ao longo de seus processos de descoberta e transformação.
“Antes da minha transição, eu já me montava, cantava e dançava, tudo girava em torno da minha drag. Foi através dela, que também se chamava Kyra, que eu me descobri como a verdadeira Kyra, essa mulher trans maravilhosa. A maquiagem sempre esteve presente em minha vida, desde a infância”, compartilhou a maquiadora.
No Centro de Referência para Promoção da Cidadania LGBT Raimundo Pereira, Kyra é uma das 14 alunas da professora de Maquiagem Verônica Souza, que ensina tanto mulheres cis quanto trans. Verônica, que também faz parte da comunidade LGBTQIAPN+, ressaltou a importância de programas afirmativos como o Mulheres Mil para promover a inclusão e o empoderamento.
“Nós, do público ‘T’ da sigla LGBTQIAPN+, sabemos que as portas estão frequentemente fechadas para mulheres travestis e transsexuais. Portanto, oferecer qualificação e novas perspectivas é essencial, seja na área da beleza ou em qualquer outra”, afirmou a professora.
Verônica destacou que, em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, é crucial expandir projetos de qualificação para a comunidade, especialmente considerando as barreiras impostas pelo preconceito que afastam muitas dessas mulheres da educação desde a infância.
Verônica destacou a importância de ampliar os projetos de qualificação para incluir todas as mulheres, não apenas as trans em situação de vulnerabilidade. “Nós também almejamos nossos diplomas de ensino superior e graduações. É essencial que esses projetos sejam pensados para todas as mulheres, abrangendo mais profissões e áreas, e até mesmo cursos de graduação”, afirmou.
Kyra, que está prestes a concluir o curso, já faz planos para o futuro. Seus sonhos incluem proporcionar uma vida melhor para sua mãe e trabalhar com o que ama, unindo-se àquela jovem que se apaixonou pela maquiagem na infância.
“Quero seguir em frente com essa carreira, mas também abrir uma loja com estúdio de maquiagem e salão. Meu sonho é tirar minha mãe do trabalho pesado e dar a ela um emprego onde possa ser sua própria chefe”, compartilhou Kyra.
*Drags são, geralmente, homens que se vestem de forma exagerada e performática, sem necessariamente se identificar como mulheres. Ser uma drag queen não define a identidade de gênero de uma pessoa, que pode ser cisgênero, transgênero ou não-binária.
