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Assim como Francisco, o Papa Leão XIV adota posições contrárias às defendidas por Donald Trump.

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Robert Prevost, o novo Papa Leão XIV, e sua postura crítica ao trumpismo: conheça o primeiro pontífice americano

Entre os dez cardeais dos Estados Unidos que participaram do conclave, foi Robert Francis Prevost quem saiu da Capela Sistina como Papa Leão XIV — o primeiro norte-americano e também o primeiro papa agostiniano da história da Igreja Católica. Sua eleição marca não apenas uma mudança geográfica, mas também reforça a continuidade de uma visão mais aberta e progressista, semelhante à do Papa Francisco.

Assim como seu antecessor, Leão XIV mantém uma postura firme contra políticas anti-imigração, frequentemente defendidas por Donald Trump e seus aliados. Em fevereiro, Prevost criticou publicamente o vice-presidente americano, JD Vance — um católico convertido — após uma declaração polêmica em que ele justificava a repressão a imigrantes ilegais com base em uma interpretação distorcida da fé cristã. “JD Vance está errado. Jesus não pede para classificarmos nosso amor pelos outros”, escreveu Prevost nas redes sociais, em referência à fala de Vance de que o amor cristão deveria seguir uma hierarquia de prioridades nacionais.

Prevost já ocupava, antes de sua eleição, um dos cargos mais influentes do Vaticano: o comando do Dicastério para os Bispos, órgão responsável pela nomeação dos bispos ao redor do mundo. Nessa função, vinha seguindo as diretrizes do Papa Francisco, especialmente no que diz respeito à acolhida de migrantes e refugiados. Quando Trump assumiu a presidência dos EUA, Francisco chegou a enviar uma carta aos bispos americanos rejeitando o tipo de teologia usada para justificar deportações em massa — visão compartilhada por Prevost.

Reação política e polarização

Nos dias que antecederam o conclave, a tensão entre política e religião já era visível. A Casa Branca chegou a divulgar uma montagem de Trump vestido como papa e sinalizou preferência pelo cardeal Timothy Dolan, de Nova York. A ação foi vista como uma tentativa inapropriada de influenciar o processo, e recebeu críticas de setores da Igreja e da sociedade civil. A Igreja Católica americana, refletindo a polarização política do país, segue dividida: parte dos seus bispos e fiéis resistiram abertamente ao papado de Francisco.

Após o anúncio da eleição de Leão XIV, Trump declarou que se tratava de uma honra para os EUA, por serem representados no trono de São Pedro pela primeira vez — mas evitou comentar diretamente sobre Prevost. Em contraste, redes sociais ligadas à base trumpista reagiram com hostilidade. A ativista Laura Loomer, próxima ao ex-presidente, acusou o novo papa de apoiar “imigrantes ilegais” e fronteiras abertas. Ela também o criticou por defender os chamados “dreamers” e por repudiar a expressão “bad hombres” usada por Trump para se referir a imigrantes violentos, classificando-a como racista.

Aliado de Francisco e defensor do diálogo

Discreto e de fala calma, Leão XIV era considerado um dos aliados mais próximos de Francisco no Vaticano. Foi o próprio Francisco quem o promoveu a cardeal e o convocou a Roma para liderar o Dicastério para os Bispos e a Pontifícia Comissão para a América Latina.

Em suas primeiras palavras como pontífice, Leão XIV fez questão de mencionar seu antecessor diversas vezes e reafirmou o desejo de liderar uma Igreja “missionária, que constrói pontes e promove o diálogo”. A declaração é vista como um indicativo de que o novo papa manterá distância das pressões políticas e seguirá o caminho traçado por Francisco — mesmo que isso signifique um relacionamento tenso com o atual governo dos EUA.