Decisão precisa também do consentimento da família. Ex-boxeador morreu nesta quarta-feira (24) em São Paulo. Ele lutava contra a doença degenerativa Encefalopatia Traumática Crônica.
Por Letícia Dauer, g1 SP — São Paulo
Maguila, 62 anos, é homenageado com samba e livro com história de sua vida está a caminho — Foto: Fernando Tucori
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Em 2018, a lenda do boxe brasileiro, José Adilson Rodrigues dos Santos, o Maguila, concordou em doar seu cérebro para pesquisa. O peso-pesado morreu nesta quinta-feira (24). Desde 2013, lutava contra a doença degenerativa Encefalopatia Traumática Crônica (ETC), que é incurável.
Nesta reportagem, o g1 explica o passo a passo para o processo de doação feito pelo ex-boxeador.
Há seis anos, Maguila preencheu uma “declaração de vontade”, manifestando o interesse em doar o cérebro à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). A instituição conta com um grupo que estuda as consequências de impactos repetidos na cabeça de atletas que praticam futebol, boxe e rúgbi, por exemplo.
Segundo a universidade, o documento deve ser assinado e ter firma reconhecida em cartório em duas vias — uma via fica com a faculdade e a outra, com o próprio ex-atleta ou a família. Esta é a primeira etapa do processo.
Após a morte do interessado na doação, vem a segunda fase. A família de Maguila precisa registrar um boletim de ocorrência comunicando seu falecimento e, em seguida, entrar em contato com o Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) da capital paulista, que fica dentro da própria Faculdade de Medicina.
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Em seguida, o corpo é levado até o SVO, a “declaração de vontade” é apresentada e a disciplina de Topografia — que receberá o cérebro — é notificada.
“A partir daí é feito o preparo do cadáver no próprio SVO e, posteriormente, encaminhado para a disciplina de Topografia, para armazenamento e preservação na câmara fria, em baixíssima temperatura”, explicou a FMUSP.
O g1 tentou entrar em contato com a família do boxeador para saber se a doação, de fato, será realizada, porém, não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Retrato do pugilista brasileiro Adilson Rodrigues Maguila durante entrevista em 18 de janeiro de 1990 — Foto: FLÁVIO CANALONGA/ESTADÃO CONTEÚDO
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Lenda do boxe
O peso-pesado nasceu em 12 de junho de 1958 em Aracaju, Sergipe. Sua carreira no esporte durou de 1983 a 2000. Das 85 lutas profissionais, ele venceu 77 — sendo 61 por nocaute —, sete derrotas e um empate técnico. Entre os confrontos mais comentados estão a famosa luta contra George Foreman, em que o americano nocauteou o brasileiro.
O ex-boxeador foi comentarista de economia do programa “Aqui Agora”, do SBT, na década de 90. Ele também fez parte do elenco fixo do “Show do Tom”, programa humorístico da Rede Record, em 2004.
Antes de completar 50 anos, o lutador foi diagnosticado com Encefalopatia Traumática Crônica (ETC). Contudo, antes disso, um erro médico resultou no tratamento de Alzheimer até 2015, quando o neurologista Renato Anghinah começou a tratá-lo pensando no principal fator o que fez desenvolver a ETC: os golpes na cabeça que sofreu ao longo da carreira de boxeador.
Em 2022, Maguila deu uma entrevista ao GE, em uma clínica no interior de São Paulo. Na época, ele passava por cuidados paliativos.
“Quero mandar um abraço para todo o povo brasileiro que me viu lutar. Estou bem e fiquem tranquilos. Só não posso mais lutar, mas estou bem. Essa doença que nem sei falar o nome, mas é difícil. É para o povo ficar tranquilo que estou bem”, disse Maguila na época.
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O ex-boxeador tratava da ETC no Centro Terapêutico Anjos de Deus, em Itu, no interior paulista. De acordo com informações da instituição, Maguila teve uma piora no quadro.
Ele deixa a esposa e três filhos, Edimilson Lima dos Santos, Adenilson Lima dos Santos e Adilson Rodrigues Júnior.
Morre o ex-boxeador Maguila, aos 66 anos