Hospital São Marcos suspende atendimentos oncológicos por falta de medicamentos e aponta atraso em repasses da Prefeitura de Teresina
O Hospital São Marcos, referência no tratamento de câncer no Piauí, anunciou nesta quinta-feira (24) a suspensão dos atendimentos oncológicos de mais de mil pacientes, devido à “absoluta falta de medicamentos”. A maioria dos afetados é atendida pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
De acordo com a instituição, o motivo da crise é um atraso de 19 meses nos repasses financeiros da Prefeitura de Teresina, o que teria gerado um grave desequilíbrio nas finanças do hospital. Em nota, a Fundação Municipal de Saúde (FMS) afirmou que, somente em 2025, já destinou R$ 32 milhões ao hospital e que avalia a realização de uma auditoria para apurar a origem das dificuldades enfrentadas pela unidade.
A FMS também destacou que a situação se agrava por conta de uma dívida de R$ 31 milhões relacionada a empréstimos consignados contratados pelo Hospital São Marcos, fato confirmado por auditoria interna realizada em 2024.
Em entrevista à TV Clube, o diretor técnico do hospital, Marcelo Martins, reconheceu o repasse total de R$ 32 milhões, mas explicou que apenas R$ 19 milhões foram efetivamente utilizados no atendimento aos pacientes com câncer. Segundo ele, cerca de R$ 8 milhões foram automaticamente retidos para cobrir os empréstimos e quase R$ 5 milhões referem-se à complementação do piso nacional da enfermagem, valores que não ficam com o hospital.
O Hospital São Marcos explicou ainda que, com os recursos repassados, o valor médio por atendimento é de aproximadamente R$ 1.400 — quantia considerada insuficiente para custear medicamentos oncológicos, equipe multiprofissional, insumos hospitalares e estrutura física. “Apesar dos esforços da equipe médica e da gestão, mais de mil pacientes estão com seus tratamentos atrasados, o que coloca suas vidas em risco”, alertou a instituição em nota.
Para tratar da crise, representantes da bancada federal do Piauí se reuniram, também nesta quinta-feira (24), com o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Adriano Massuda. Está prevista a visita de uma equipe técnica do Ministério a Teresina entre os dias 28 de abril e 2 de maio.
Detalhamento dos repasses e da dívida
A FMS informou que, até o momento, já transferiu ao Hospital São Marcos os seguintes valores: R$ 9,79 milhões em janeiro, R$ 13,56 milhões em fevereiro, R$ 7,62 milhões em março, além de R$ 1,2 milhão pagos no início de abril — totalizando mais de R$ 32 milhões em 2025. Esses recursos incluem a produção hospitalar e ambulatorial, incentivos federais e estaduais, e a complementação do piso da enfermagem.
O hospital também recebe cerca de R$ 700 mil mensais em renúncia fiscal do município de Teresina, R$ 2,5 milhões mensais do Governo Federal com o mesmo fim, além de lucro com serviços prestados a particulares e planos de saúde. Desde 2023, também recebe R$ 900 mil mensais do Governo do Estado como complemento à tabela SUS.
No entanto, os R$ 650 mil mensais que deveriam ser repassados pela FMS como complementação não estão sendo pagos desde a gestão anterior, em razão da dívida do hospital. A administração passada chegou a acionar a Justiça para cobrar o valor. Enquanto isso, o prefeito de Teresina, Sílvio Mendes, e o atual presidente da FMS, Charles Silveira, já buscaram apoio do Governo Federal para resolver o impasse, mas ainda aguardam uma solução definitiva.
A FMS reiterou seu compromisso com a transparência e com a continuidade dos serviços prestados à população.
